segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A outra



Foi rápido assim. Esperando o meu voo de volta ao Rio de Janeiro no aeroporto de Brasília escutei o sistema de som chamando uma mulher que tinha o nome igual ao meu. Por uns instantes fiquei na dúvida se não era eu que estava atrasada para o voo, minha dislexia sempre me prega peças. O destino da outra era Belo Horizonte, o horário era 19 horas, concluí que realmente não era eu. Mas fiquei curiosa, o portão de embarque dela era próximo ao meu e fiquei tentanto ver quem era aquela mulher que caminha pelo mundo com o nome e sobrenome igual ao meu. Minha curiosidade foi obstada pela multidão do aeroporto JK, não consegui avistá-la. O portão dela se fechou e eu fiquei imaginando como ela seria. Loira, negra, ruiva por opção que nem eu...Como ela seria? Mais assertiva ou de natureza serena. Será que ela tem alguém aguardando-a em seu destino ou ela estava partindo de uma história...Ou apenas como eu, foi à capital do país para trabalhar. Muitas coisas passaram em minhha cabeça na minha espera sobre a minha xará. Será que ela tem muitos amigos ou apenas poucos, daqueles para toda hora. Será que ela tem um amor, alguém que a tire da dura realidade de trabalho, obrigações e deveres? Espero que sim, espero que tenha um paraíso particular, um refúgio para seus desejos e anseios, pois é muito árido viver sem um afeto. Tudo fica tão cinza quando vive-se assim.

Por um momento fiquei desejando a felicidade desse meu "duplo" como se fosse uma gêmea perdida. Desejei o bem dela, uma boa viagem, uma vida plena, um Amor e paz. Gostaria que meu reflexo sorrisse mais que fosse menos complicada do que a pessoa do outro lado do espelho.

Querida, boa sorte para você e cuidado com suas escolhas.

sábado, 6 de agosto de 2011

O universo alheio



Uma amiga minha perdeu a grande batalha que fazia para sobreviver. Depois de grandes batalhas com tratamentos, terapias químicas e radioativas e por fim um transplante de medula, seu corpo cansado capitulou e assim ela partiu.
Nessa terça-feira no meio do trabalho o marido dela me telefonou informando a triste notícia, ele, pausadamente me disse o que aconteceu, numa tranqüilidade daqueles que transcendem a dor. Eu, chocada, deixei as lágrimas correrem como um rio de meus olhos. Tentei o impossível, consolar alguém de uma perda tão profunda com frases recheadas de clichês. Ao final, ele me disse que minha amiga gostava muito de mim e que me considerava uma pessoa próxima a ela. Fiquei constrangida, pois sei que eu poderia ser muito mais presente nessa fase dela, o máximo que fiz foi ajudá-la no trabalho (ela era minha colega de profissão) e dar alguns telefonemas para saber como ela estava. Não sabia que ela me considerava uma pessoa próxima. Eu pouco a visitava antes da doença e depois eu nunca consegui me organizar em ir ao hospital para visitá-la. Mas mesmo assim, com minhas faltas, ela me considerava próxima a ela.
Fique me perguntando o que fazia ela se sentir dessa maneira comigo. Eventualmente nos encontrávamos no Tribunal e fazíamos uma pausa para o café e riamos muito com as nossas batalhas legais. Lembro uma vez que ela me levou para o banheiro do Tribunal para eu dar uma opinião sobre se ela deveria ou não permanecer com a peruca que estava usando, pois aquilo a incomodava demais no inclemente calor do verão carioca. Rumamos ao banheiro, e ela tirou a peruca. Eu me lembro que os cabelos dela estavam bem curtos, mas sem nenhuma falha, nada que remetesse a uma doença, mas a um corte de cabelo mais arrojado que fazia um belo conjunto com o rosto expressivo dela. Minha amiga me perguntou se ela deveria continuar com os cabelos artificiais ou assumir seu novo e inesperado visual “Annie Lennox”, eu optei pela segunda opção. Ela ficou na dúvida durante, eu dei força para colocar a peruca na pasta e ficar com a cabeça fresca. Disse-lhe: “Passe um batom veja como você está ótima como uma Annie Lennox morena!”. Ela seguiu a dica, colocou a peruca na pasta e seguimos felizes pelos corredores do tribunal.
Nunca saberei o que fez ela se sentir próxima a mim. Talvez esse seja o grande segredo da vida. Nunca sabemos o que significamos ao próximo, o que realmente faz uma pessoa gostar ou não gostar da gente. E porque gostamos incondicionalmente de certas pessoas. Por isso temos que ter muito cuidado com quem está, de maneira ou outra, ao nosso lado. Porque fazemos parte do universo do próximo de uma maneira que sequer imaginamos.