sábado, 6 de agosto de 2011

O universo alheio



Uma amiga minha perdeu a grande batalha que fazia para sobreviver. Depois de grandes batalhas com tratamentos, terapias químicas e radioativas e por fim um transplante de medula, seu corpo cansado capitulou e assim ela partiu.
Nessa terça-feira no meio do trabalho o marido dela me telefonou informando a triste notícia, ele, pausadamente me disse o que aconteceu, numa tranqüilidade daqueles que transcendem a dor. Eu, chocada, deixei as lágrimas correrem como um rio de meus olhos. Tentei o impossível, consolar alguém de uma perda tão profunda com frases recheadas de clichês. Ao final, ele me disse que minha amiga gostava muito de mim e que me considerava uma pessoa próxima a ela. Fiquei constrangida, pois sei que eu poderia ser muito mais presente nessa fase dela, o máximo que fiz foi ajudá-la no trabalho (ela era minha colega de profissão) e dar alguns telefonemas para saber como ela estava. Não sabia que ela me considerava uma pessoa próxima. Eu pouco a visitava antes da doença e depois eu nunca consegui me organizar em ir ao hospital para visitá-la. Mas mesmo assim, com minhas faltas, ela me considerava próxima a ela.
Fique me perguntando o que fazia ela se sentir dessa maneira comigo. Eventualmente nos encontrávamos no Tribunal e fazíamos uma pausa para o café e riamos muito com as nossas batalhas legais. Lembro uma vez que ela me levou para o banheiro do Tribunal para eu dar uma opinião sobre se ela deveria ou não permanecer com a peruca que estava usando, pois aquilo a incomodava demais no inclemente calor do verão carioca. Rumamos ao banheiro, e ela tirou a peruca. Eu me lembro que os cabelos dela estavam bem curtos, mas sem nenhuma falha, nada que remetesse a uma doença, mas a um corte de cabelo mais arrojado que fazia um belo conjunto com o rosto expressivo dela. Minha amiga me perguntou se ela deveria continuar com os cabelos artificiais ou assumir seu novo e inesperado visual “Annie Lennox”, eu optei pela segunda opção. Ela ficou na dúvida durante, eu dei força para colocar a peruca na pasta e ficar com a cabeça fresca. Disse-lhe: “Passe um batom veja como você está ótima como uma Annie Lennox morena!”. Ela seguiu a dica, colocou a peruca na pasta e seguimos felizes pelos corredores do tribunal.
Nunca saberei o que fez ela se sentir próxima a mim. Talvez esse seja o grande segredo da vida. Nunca sabemos o que significamos ao próximo, o que realmente faz uma pessoa gostar ou não gostar da gente. E porque gostamos incondicionalmente de certas pessoas. Por isso temos que ter muito cuidado com quem está, de maneira ou outra, ao nosso lado. Porque fazemos parte do universo do próximo de uma maneira que sequer imaginamos.